Desde que assumiu o cargo de Secretária de Informação e Saúde Digital – estabelecida no início de 2023 – Ana Estela Haddad enfatizou que a transformação digital na saúde pública no Brasil seria um dos principais objetivos. Com mais de um ano à frente da pasta, diversas novidades foram implementadas para reduzir lacunas no atendimento e fortalecer a área por meio da tecnologia.
Em uma entrevista exclusiva ao Futuro da Saúde, Ana Estela Haddad, secretária de Informação e Saúde Digital do Ministério da Saúde, abordou o Programa SUS Digital – uma prioridade do governo -, a integração de dados e o avanço da interoperabilidade nos sistemas.
Para enfrentar esses desafios, de acordo com a secretária, a pasta está concentrando seus esforços no fortalecimento da Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS) como a principal plataforma nacional de interoperabilidade. Uma das inovações compartilhadas por ela é a Federalização da RNDS, com o objetivo de integrar efetivamente os sistemas de informação dos estados e municípios. "Essa é uma iniciativa em andamento e será priorizada este ano, com o piloto previsto para ocorrer em sete estados brasileiros", afirmou.
Ana Estela Haddad também destacou que, por meio do Programa SUS Digital, a pasta busca incentivar municípios, estados e macrorregiões a desenvolver Planos de Ação de Transformação para a Saúde Digital. Ela enfatizou: "Estamos trabalhando ativamente para deixar claro que a saúde digital complementa os serviços de saúde existentes, facilitando o acesso rápido a especialistas e iniciando tratamentos imediatamente, algo desafiador em áreas com recursos limitados ou dificuldades de deslocamento".
A seguir, confira os destaques da entrevista:
O Meu SUS Digital, antigo Conecte SUS, progrediu durante a pandemia, com dados de vacinação. A integração de todas as informações de saúde do usuário está mais próxima? O que é necessário para alcançar esse objetivo?
Ana Estela Haddad – O Ministério da Saúde avançou consideravelmente na digitalização dos serviços de saúde e na ampliação das informações no Meu SUS Digital, graças à interoperabilidade de dados como vacinação, internação, medicamentos e exames por meio da RNDS. No entanto, obter uma cobertura completa das informações de saúde de cada cidadão demanda maior cooperação com os sistemas locais de saúde e melhorar a infraestrutura tecnológica das instituições de saúde. Estamos trabalhando em diversas frentes para aprimorar a conectividade, informatização e integração de sistemas à RNDS, visando ampliar e qualificar os registros de saúde e expandir os serviços de telessaúde.
A Ebserh tem avançado significativamente desde o início da gestão, expandindo o prontuário único dos hospitais universitários públicos para outras unidades. É viável ampliar ainda mais?
Ana Estela Haddad – O Ministério da Saúde tem se empenhado em fortalecer a transformação digital no sistema de saúde, estabelecendo parcerias estratégicas que incluem instituições renomadas como a Ebserh. Essas colaborações foram essenciais para impulsionar inovações e melhorias no SUS. Um marco importante foi o Acordo de Cooperação assinado em 2023, envolvendo também o CONASS e o CONASEMS, facilitando o acesso ao Aplicativo de Gestão para Hospitais Universitários (AGHU) em hospitais e serviços de saúde especializados. Esta iniciativa promete trazer economia significativa para o SUS e incentivar o uso ampliado do AGHU.
Quais são os planos prioritários da pasta para 2024? Existe alguma frente que será destacada?
Ana Estela Haddad – Em 2024, o Ministério da Saúde focará em diversas frentes prioritárias, com destaque para o Programa SUS Digital como a principal iniciativa da Secretaria de Informação e Saúde Digital (SEIDIGI/MS). O programa visa estimular municípios, estados e macrorregiões a desenvolver Planos de Ação de Transformação para a Saúde Digital, iniciando com o mapeamento da rede de atenção à saúde. O SUS Digital está disponível para gestores estaduais e municipais através do InvestSUS, facilitando a adesão. Nosso objetivo é melhorar o acesso e a qualidade dos serviços de saúde, especialmente em áreas vulneráveis, por meio de financiamento para projetos com soluções digitais e iniciativas de transformação digital em andamento na Secretaria.
Como a interoperabilidade pode ser promovida e qual é o papel do governo nesse avanço?
Ana Estela Haddad – Enxergamos a interoperabilidade como fundamental para a evolução da saúde digital, facilitando o acesso a serviços públicos de qualidade e promovendo eficiência operacional. Estamos fortalecendo esse movimento, internamente e em colaboração com outras entidades governamentais, priorizando a prestação de serviços digitais. Um exemplo é a parceria com o INSS, onde a interoperabilidade será utilizada para automatizar o processo de concessão de benefícios, reduzindo significativamente as longas filas de espera. Esta iniciativa, em fase de implantação pelo Instituto Nacional, visa agilizar o tempo de resposta aos cidadãos, demonstrando nosso compromisso com a utilização da tecnologia para beneficiar diretamente a população, sobretudo os mais vulneráveis.
Como converter dados em iniciativas potenciais para lidar com a diversidade dos territórios brasileiros?
Ana Estela Haddad – Transformar dados em ações efetivas exige uma análise detalhada para compreender as necessidades de cada região do Brasil. O departamento de Monitoramento e Avaliação da SEIDIGI se esforça para monitorar e analisar os dados de saúde de forma qualificada, disseminando informações estruturadas para apoiar gestores, profissionais de saúde e pesquisadores. Essa abordagem permite a elaboração de programas e políticas de saúde mais assertivos e personalizados, respeitando a diversidade e as particularidades geográficas do país.
Como a inteligência artificial pode contribuir para esse cenário?
Ana Estela Haddad – A inteligência artificial tem o potencial de melhorar significativamente o setor da saúde, trazendo inovações e tornando os serviços digitais mais eficientes no SUS. Estamos acompanhando as novidades em IA para avaliar como podemos utilizá-la em benefício da população. Nosso foco é garantir processos mais eficazes e criar serviços que aprimorem os cuidados com a saúde, sempre atentos à segurança e privacidade das informações dos cidadãos.
Em relação ao ‘Meu SUS Digital’, a última atualização do aplicativo passou a exibir nome social. Como a pasta encara a inclusão e a diversidade?
Ana Estela Haddad – A atualização do aplicativo ‘Meu SUS Digital’ reflete o compromisso do Ministério da Saúde com a inclusão e o respeito à diversidade da população brasileira. Esta evolução não se restringe à mudança de nome, mas amplia suas funcionalidades para atender às necessidades do público do SUS, promovendo melhor qualidade de vida e respeito à diversidade. A constante evolução do aplicativo visa aprimorar e expandir suas funcionalidades para melhor servir aos cidadãos, abraçando a diversidade e promovendo a dignidade de cada brasileiro.
Por Angélica Weise, Jornalista formada pela UNISC, com Mestrado em Tecnologias Educacionais em Rede pela UFSM. Antes de integrar o Futuro da Saúde, atuou nos portais Lunetas, Drauzio Varella e Aupa.
Editora do blog ‘Meu SUS Digital’ é apaixonada por saúde pública e tecnologia, dedicada a fornecer conteúdo relevante e informativo sobre como a digitalização está transformando o Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil.